SANTO DE BARRO NÃO FIRMA NO ALTAR

SANTO DE BARRO NÃO FIRMA NO ALTAR
                                                Maria Helena Campos Pereira[1]
A sociedade vive momentos difíceis, são milhões de pessoas aflitas que em diversas línguas e dialetos comunicam  as malidicências existentes no meio em que se vive. E educação não é diferente, o ensinar é sempre um processo em mutação que os gestores querem pragmatizarem.
A gestão ambiental tem sido conturbada na busca de metodologias direcionadas, que impedem o profissional “professor” de agir criativamente, utilizar métodos inovadores e diversificados. Existem gestores educacionais que se preocupam em fiscalizar as ações do gestor da sala de aula, que muitas vezes fica desanimado, perde a motivação, pois na faculdade ele aprende que o educador pode utilizar o método e o processo alfabético que ele mais domina para a aprendizagem de qualidade[2]. No entanto, esta liberdade de atuação, tem sido fiscalizada, até mesmo com ações coercitivas por alguns dito especialistas da educação, inclusive com reuniões coercivas para inquirir o professor, se ele está trabalhando ou não com um material didático específico da orientação “pedagógica”. Assim, questiona-se, onde está a verdadeira liberdade educacional de um professor com dois cursos superiores, tres cursos de especialização lato sensu, que se obriga a seguir as mesmices de alguns colegas que não se preocupam em inovar e pesquisar, mas apenas seguir as ordens de especialistas? E depois, se o processo não caminhou com eficácia, de quem é a culpa? Daquele que ordenou o fazer igual para todos, com os mesmos materiais didáticos, ou será do gestor da sala de aula, um professor humilde, simples, porém questionador e teve a iniciativa de elaborar inclusive outros jogos pedagógicos, mas foi podado, investigado em público perante toda equipe educativa, um verdadeiro inquérito “judicial”, não em um ambiente jurídico de fato, no ambiente escolar.
Que liberdade é esta que a lei orienta a diversidade pedagógica e o professor não pode agir conforme aprendeu fazer nas academias superiores, e conforme a lei da educação? Bem diz Cecília Meireles, que liberdade é uma palavra que todos procuram, mas ninguém conhece, e o Estado é instituído democrático. E as concepções de Paulo Freire orienta que na construção do conhecimento exige saber aprender, pesquisar e ensinar, de acordo com ele, isto é um ciclo gnosiológico. Entende-se ser também uma trindade pedagógica indissolúvel, onde o aprender acontece, nos diversos âmbitos da vida humana, até mesmo junto ao aluno, a partir de seu diagnóstico, das suas curiosidades, solicitações diárias e ou temas de interesse. E segundo, Carvalho (2004),
o homem é um ser aberto ao mundo, um especialista da não especialização, um ser lúdico que aprende por curiosidade ativa, […] um ser  […]  do acaso, do risco, do perigo e da crise, em aprendizagem permanente, a demandar que se desenvolva uma flexibilidade e uma plasticidade comportamental. (CARVALHO apud ASSMANN, 2004, p.145).
Neste contexto, se o sujeito é ativo, lúdico e aprende por curiosidade, com o desenvolvimento da flexibilidade, há que se rever, as posturas de alguns gestores e seus estilos interpessoais porque Santo de Barro nem sempre firma no altar, e as leis são transitórias com o dever de serem elaboradas para ajudar o sujeito moral a se organizar e posicionar na sociedade. Mas, um professor responsável, sujeito ético, fala por si só, ele segue o seu caminho com postura humana e racional de fato, respeita o outro ser humano independente das normas legais, sabe dirigir sua tarefa com autonomia, o que independe das ordens verticalizadas e autocratas, ele tem uma relação de compromisso com o seu trabalho, e neste caso pode haver abertura para uso de materiais didáticos adequados ao nível de cada aluno na sala, de investigação, de troca de conhecimentos, não apenas com técnicas e metodologias impostas e direcionadas.
Então, não generalizando é claro, ainda é tempo da gestão educacional se preocupar em exercer uma liderança mais “inspiradora”, onde o líder raramente necessita dar ordens aos seus liderados, eles se sentem atraídos pela sua figura, estão dispostos a fazer o necessário e vão além das possibilidades, eles conseguem “transcender”, são pessoas criativas, humanas e sabem conviver com sua equipe, independem de uma inspeção escolar ríspida e de atos administrativos burocráticos.
Sabe-se que a liberdade é condicionada, no entanto, a coerção também não pode existir de acordo com o artigo 5º da Lei maior do Brasil, e um dos relatórios da UNESCO enfatiza que, aprender a conviver com os outros é um dos aspectos essenciais, ao processo de ensino e aprendizagem. Entende-se que, isto é um dos maiores desafios, que os educadores podem enfrentar nos dias atuais e atuar nos assuntos que se relacionam às atitudes e valores, nesta  sociedade contemporânea, rica em comunicação e de redes sociais. Neste contexto, compreende-se que é importante o ‘combate ao conflito, ao preconceito, às rivalidades milenares ou diárias’ e dessa maneira a educação pode ser a condutora, que divulga e forma seres humanos com índole realmente racionais para o desenvolvimento de uma cultura de paz, tolerância e compreensão.
Mas, como isto pode acontecer, se os Santos de Barro não firmam no altar? Há de convir que uma das grandes escolas que tem dado certo no Brasil com um altar invejável é a Escola de Samba, onde todos trabalham com garra, ousadia, criatividade, há participação coesa das ações, sem coerção e o líder é inspirador, incentivador e empreendedor. Nesta escola, busca-se a compreensão de todos, o planejamento é cooperativo para apresentar sua música, poesia e ações coordenadas ao público em geral, com qualidade, estética, integração das ações artísticas e satisfação dos envolvidos.
Assim sendo, os Santos de Barro necessitam permanecer no altar, entretanto, com uma postura de convivência harmônica entre seus liderados, com uma atitude mais ética, inquisição não, este período foi colonial, estamos em pleno século da tecnologia, das inovações, das redes de comunicação, por isso, o convívio deve ser dialógico, transparente e a inovação pedagógica é essencial. Permanecer com um altar de barro, mudo, sem ação diversificada é continuar com reproduções que retroagem ao passado do Brasil Colônia, onde tudo só poderia ser realizado sob ordens de seus maiorais. Portanto, a sala de aula nunca será silenciosa se as atividades podem ser construtivas e sociointerativas porque a vida é barulhenta, e só a morte é taciturna e desmaia lentamente. A vida é feita de poesia, música, emoção e muita cooperação!
BIBLIOGRAFIA
ASSMANN, Hugo. Curiosidade e prazer de aprender: o papel da curiosidade na aprendizagem criativa. Petrópolis: Vozes, 2004.

Constituição Federativa do Brasil, 1988.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96
REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP SABER ACADÊMICO – n º 09 – Jun. 2010/ ISSN 1980-5950


[1] Maria Helena Campos Pereira é pesquisadora, professora das disciplinas de Gestão de Processos Educativos Escolares; Filosofia para crianças e adolescentes na Universidade Presidente Antonio Carlos- UNIPAC e Metodologia do Trabalho Científico na Pós Graduação da FIP- Faculdades Integradas de Patos, Paraíba.
[2] Artigo 3º da Lei nº 9394/96, LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nascional de 1976.

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