Ao fazer uma sinopse da visita do Papa no Brasil, entende-se que Ele assumiu a Igreja num período muito difícil, no entanto, fala claramente dos problemas enfrentados e consegue nomear especialistas laicos para ampliar as melhorias no Vaticano nestes cinco meses de pontificado. E em Terras brasileiras, ele visita doentes ao hospital, comunidades carentes, instituições de recuperação de drogados, com uma postura altiva.
Entende-se, assim como outros comentaristas e até historiadores, que a visita do Papa ao Brasil é marcada pela diplomacia institucional do Vaticano em relação à América Latina, ao aproveitar o fato de Francisco ser o primeiro Pontífice da região, o primeiro Jesuíta a ocupar o cargo. A visita no Brasil foi a sua primeira viagem internacional, e o discurso dele é intensamente articulado com a questão da pobreza, até mesmo ao dizer que “a Igreja tem que estar nas ruas, se não”, pode-se tornar uma organização não governamental – ONG. (Munteal, 2013)
Acredita-se realmente que não se pode exercer um trabalho educativo com foco na religiosidade e espiritualidade, apenas dentro de quatro paredes, com ilustrações e ornamentações alusivas ao assunto. Nem mesmo ser solidário com posturas cerradas em templos específicos, quando outrens estão na rua à procura do nada ou de algo que só exerce momentaneamente o prazer físico e transcendente.
A diplomacia, a capacidade de adaptação e conhecimento do outro tem sido uma marca em suas ações, mesmo porque, sua linha organizacional é a Jesuíta, assim, tem forte ligação com os pobres e os simples. Ressalta-se também ao proferir seu discurso, que a mensagem tem forte relação com a política ao defender a necessidade da Igreja caminhar com os oprimidos, assim, faz-se necessário a presença da Igreja nas camadas populares, e isto nos faz recordar Paulo Freire com a Pedagogia do Oprimido e também a ideia do teólogo Leonardo Boff, em épocas de seu sacerdócio.
O que o Papa Francisco trouxe até agora de novo. É arriscado fazer um balanço do pontificado de Francisco, pois o tempo decorrido não é suficiente para termos uma visão de conjunto. Numa espécie de leitura de cego que capta apenas os pontos relevantes, poderíamos elencar alguns pontos. 1. Do inverno ecclesial à primavera: saímos de dois pontificados que se caracterizaram pela volta à grande disciplina e pelo controle das doutrinas. Tal estratégia criou uma espécie de inverno que congelou muitas iniciativas. Com o Papa Francisco, vindo de fora da velha cristandade européia, do Terceiro Mundo, trouxe esperança, alívio, alegria de viver e pensar a fé cristã. A Igreja voltou a ser um lar espiritual.[2]
Espera-se realmente, que tanto a juventude, quanto os mais experientes quanto à idade possam incorporar a lição deste grande Jesuíta que realça a sua postura e sentimento Ético a preocupação com toda a humanidade, até mesmo ao solicitar que eliminem o elitismo, que parece imperar no meio de grande parte da população mundial.
De uma fortaleza a uma casa aberta: Os dois Papas anteriores passaram a impressão de que a Igreja era uma fortaleza, cercada de inimigos contra os quais devíamos nos defender especialmente, o relativismo, a modernidade e a pós-modernidade. O Papa Francisco disse claramente: “quem se aproxima da Igreja deve encontrar as portas abertas e não fiscais da alfândega da fé; é melhor uma Igreja acidentada porque foi à rua do que uma Igreja doente e asfixiada porque ficou dentro do templo”. Portanto mais confiança que medo. (BOFF, 2013)
Com base neste contexto, espera-se que a fortaleza seja quebrada e haja a incorporação de ações ecléticas no mundo espiritual e real, mesmo porque somos feito a imagem e semelhança do altíssimo, então, não há porque vivermos dentro dos templos religiosos domingo a domingo, e não enxergarmos a necessidade do próximo e vivenciarmos um mundo mais eclético, tanto nas questões religiosas, quanto educacional e real. Ainda pela visão de Boff (2013), o terceiro ponto relevante:
De Papa a bispo de Roma: Todos os Pontífices anteriores se entendiam como Papas da Igreja universal, portadores do supremo poder sobre todas as demais igrejas e fiéis. Francisco prefere se chamar bispo de Roma, resgatando a memória mais antiga da Igreja. Quer presidir na caridade e não pelo direito canônico, sendo apenas o primeiro entre iguais. Recusa o título de Sua Santidade, pois diz que “somos todos irmãos e irmãs”. Despojou-se de todos os títulos de poder e honra. O novo Anuário Pontifício que acaba de sair cuja página inicial deveria trazer o nome do Papa com todos os títulos, agora aparece apenas assim: Francesco, bispo de Roma.
Ele foi eleito para o supremo poder, no entanto, sua simplicidade e humildade lhe faz rejeitar o poderio e resgatar a memória de bispado, e a recusa do título de Sua Santidade nos faz entender que, este é um de seus exemplos de vivência Ética, pois a irmandade é que nos faz vivenciar a lei maior, e não só de títulos, de poder e honrarias nos leva ao maior grau de humanidade que o outro, todos somos seres especiais, portanto, racionais. Assim, no espectro de Boff (2013), o quarto ponto relevante nos ensina que o Papa deixou o palácio papal, com todas as honrarias e poder elitizado para viver em uma simples hospedaria.
Do palácio à hospedaria: O nome Francisco é mais que nome; sinaliza outro projeto de Igreja na linha de São Francisco de Assis: “uma Igreja pobre para os pobres” como disse, humilde, simples, com “cheiro de ovelhas” e não de flores de altar. Por isso deixou o palácio papal e foi morar numa hospedaria, num quarto simples e comendo junto com os demais hóspedes.
Esta sua ação é mais um exemplo de vivência Ética, e nos faz lembrar Freire (1996), ao se referir à ética, ele diz que ensinar exige “corporeificar as palavras por exemplo”. Então, pode-se perceber que Francisco tem dado exemplo do que tem pregado, o viver com simplicidade em um quarto comum, se alimentar junto com todos, e ainda mais, ressalta o cheiro das ovelhas, que vivem num pasto comum a todos. E, que a igreja seja tão simples quanto aos ambientes carentes e as pequenas flores do campo, que diferem das grandiosas e imponentes flores do altar.
Então, ainda na visão de Boff (2013), o quinto ponto relevante do papa é:
Da doutrina à prática: Não se apresenta como doutor, mas como pastor. Fala a partir da prática, do sofrimento humano, da fome do mundo, dos imigrados da África, chegados à ilha de Lampedusa. Denuncia o fetichismo do dinheiro e o sistema financeiro mundial que martiriza inteiros países. Desta postura resgata as principais intuições da teologia da libertação, sem precisar citar o nome. Diz: “atualmente, se um cristão não é revolucionário, não é cristão; deve ser revolucionário da graça”. E continua: “é uma obrigação para o cristão envolver-se na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade”. E disse à Presidenta Cristina Kirchner:”é a primeira vez que temos um Papa peronista” pois nunca escondeu sua predileção pelo peronismo. Os Papas anteriores colocavam a política, sobsuspeita, alegando a eventual ideologização da fé.
Observa-se que ele não é um imponente lírio de altar. E, quando não se apresenta como doutor, lhe faz mais simples ainda, não teme a política elitizada, no entanto, incentiva a inserção dos cristãos no campo político porque não há cristão que possa se envolver no campo dos questionamentos espirituais, sem se envolver na política objetiva, que busque soluções objetivas e imateriais. E, quanto ao sexto ponto de relevância, Ele ressalta a importância do diálogo como assunto fundamental entre as doutrinas, na perspectiva da inclusão e da cultura de paz na humanidade. Assim, diz Boff (2013):
Da exclusividade à inclusão: Os Papas anteriores enfatizaram, especialmente Bento XVI a exclusividade da Igreja Católica, a única herdeira de Cristo fora da qual corre-se risco de perdição. O Francisco, bispo de Roma, prefere o diálogo entre as Igrejas numa perspectiva de inclusão, também com as demais religiões no sentido de reforçar a paz mundial. (BOFF,2013)
Dessa forma, o sétimo ponto que o faz relevante se relaciona a não colocar a Igreja como ponto central das questões doutrinárias, todavia, o Papa Francisco mexeu com as feridas, fez autocrítica e incentivou o mundo à proteção da Terra e dos pobres como eixo principal na questão da vida.
Da Igreja ao mundo: Os Papas anteriores davam centralidade à Igreja reforçando suas instituições e doutrinas. O Papa Francisco coloca o mundo, os pobres, a proteção da Terra e o cuidado pela vida como as questões axiais. A questão é: como as Igrejas ajudam a salvaguardar a vitalidade da Terra e o futuro da vida? Como se depreende, são novos ares, nova música, novas palavras para velhos problemas que nos permitem pensar numa nova primavera da Igreja. (BOFF, 2013)
Portanto, há que se entender que a lição que nos é dada depende de fugirmos da velhas certezas e costumes, para a inserção em uma inovação eclesiástica mundial, independente do credo e dos paradigmas religiosos, pode ser possível a colaboração e humanização da humanidade, em prol de um a vida com mais qualidade. Dessa forma, o Papa Francisco se despede do povo brasileiro e diz que “Cristo está preparando uma nova primavera no mundo, que continuará nutrindo os jovens do Brasil”. Ele incentiva os jovens ao entusiasmo e alegria, e reafirma sua simplicidade ao dizer que a riqueza não está nas coisas, mas no coração e sua elegância é demonstrada com simplicidade.
Referências
BOFF, Leonardo. O que o Papa Francisco trouxe até agora de novo. Rio de Janeiro: Editora Mar de Ideias, 2013.
MUNTEAL, Oswaldo. É professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e da Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), além de pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV).
www.google.com e Rede Globo de Televisão.
[1] Maria Helena Campos Pereira é professora de Filosofia para crianças e adolescentes e Gestão de processos educativos escolares na UNIPAC – Universidade Presidente Antonio Carlos e de Metodologia Científica na Pós-Graduação da FIP – Faculdades Integradas de Patos, Paraíba polo de Governador Valadares, 28/07/2013.
[2] BOFF, Leonardo. O que o Papa Francisco trouxe até agora de novo. Boff é teólogo e autor de Francisco de Assis e Francisco de Roma. Rio de Janeiro: Editora Mar de Ideias, Rio 2013. 26/07/2013