Interesse, conhecer as manhas e as manhãs

Interesse, conhecer as manhas e as manhãs
Maria Helena Campos Pereira

Conhecer as manhas e as manhãs é uma metáfora utilizada para ilustrar a forma de  abordagem com um diagnóstico, no qual se insere os assuntos educativos, a partir de temas de interesse. Entende-se que educar com esta metodologia requer uma visão curricular globalizadora, com intercâmbio de ideias e conhecimentos inter e multidisciplinares porque é necessário se dispor a conhecer melhor seu aluno, como também os temas dos quais ele tem vontade investigar e compreender. Isto pode causar em muitos mestres, a sensação de insegurança por não dominar todos os assuntos, mas acredita-se que é possível realizar pesquisas de acordo com cada temática. Não resta menor dúvida que pode ser mais trabalhoso devido ao planejamento das ações que requer uma análise individual de cada assunto, como também, um plano cooperativo e dialógico, do que se pretende conhecer no global para atender assim, as expectativas dos investigados, quer na concepção individual, bem como, no aproveitamento globalizador do grupo de aprendizes.
Os temas de interesse são organizados como geradores (Freire, 2000) e se transformam em objetos de estudos e pesquisas, assim como, trocas de experiências práticas e teóricas, para isso, exige-se a eliminação do individualismo em busca da parceria com o refletir coletivo. E assim, a metodologia básica está condicionada à prática dialética constante e contínua, na construção da democratização do saber, provocando a multiplicidade de agir e pensar, a influência e estímulo para um operar participativo, por liderança e pensamento filosófico, que difere do pensamento hierárquico linear.
O propósito desta compreensão e prática educativa é suscitar o desejo de aprender com alegria natural, a partir do objeto de estudo, bem como, o aprender a aprender. Dessa forma, pode-se dizer que se constrói uma postura inovadora, com práxis curricular, que difere dos currículos e práticas tradicionais. Visto que, desta maneira, compartilha-se ideias, hipóteses, contextualiza-se negociações com o inter-relacionamento de pessoas e processos.
E no entendimento de teóricos como Hernandez (1998), esta é uma ponte para as organizações mais dinâmicas e flexíveis como as circulares ou de redes, que não só preocupam com a pura transmissão do conhecimento, como também realizam uma leitura da realidade e das transformações que ocorrem na escola, sociedade e no mundo.
A organização educacional nesta concepção educativa se institui, informa, teoriza conceitos numa verdadeira atividade de interação grupal. Assim, pode-se dizer que a escola preocupa-se com um novo contexto social e investiga novos paradigmas com ação, reflexão e ação para o avanço na construção dos conhecimentos. É necessário para isso, a redefinição de papéis dos diferentes agentes internos e externos, no amplo processo educacional. E a instituição elabora sua missão e visão educativa com a participação de todos os envolvidos, mesmo que esta tenha características diferenciadas, como aquelas que recebem alunos advindos de instituições especiais e de regime semiaberto de detenção.
Para tanto, busca-se desenvolver continuamente a identificação e observação dos investigados, bem como, os avanços de resultados e análise de problemas gerais com a participação cooperativa e consensual para as possibilidades de minimizá-los ou erradicá-los. Espera-se que desta forma haja um desenvolvimento intelectual e crescimento pessoal permanente, e que a escola possa ser um local de estudo, de avaliação dimensionada, de evolução contínua do pensamento, com análises conjuntas para replanejamento de sucessivas melhorias em relação aos aspectos psicobiológicos dos aprendizes. Com isso, ainda com as expressões metafóricas de Almir Sater e Renato Teixeira vamos tocando enfrente.
Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs, é preciso amor pra poder     pulsar, é preciso paz pra poder sorrir. É preciso chuva para florir… […] Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega, no outro vai embora, cada um de nós compõe a sua história, e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz…[1]
    Então, para que se consiga imagens e construções fundamentadas em aspectos psicobiológicos de aprendizes, em educação básica ou em regime carcerário semiaberto, onde se busca uma investigação educativa, a partir dos temas de interesse, requer ‘conhecer as manhas e as manhãs’ com diagnóstico contínuo na prática de observação e participação-ação. E para isso é preciso amor pra poder pulsar, onde cada um compõe a sua história, com o dom de ser capaz e a possibilidade de ser feliz, pois como diz Maturana (2001),[2] 


Todo ato humano ocorre na linguagem. Toda ação na linguagem produz o  mundo que se cria com os outros, no ato de convivência que dá origem ao humano. Por isso, toda ação humana tem sentido ético. Essa ligação do humano é, em última instância, o fundamento de toda etica como reflexão sobre a legitimidade da presença do outro.

    

           Portanto é  no ato de convivência com outros que se descobre o que se deve ensinar e o que se dese-
ja aprender, por isso, é imprescindível que todo ato humano que ocorre na linguagem, onde gera uma ação humana seja com sentido respeitoso e posturas éticas. Mesmo porque não é fácil conhecer as manhas e nem as manhãs. No entanto, o educar é um eterno conhecer e conviver, e a formação humana depende desta convivência.
[2]  MATURANA, Humberto R. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001p.269.

[1]  Fragmento da musica ‘Tocando em Frente’ .Autoria de  Almir Sater  & Renato Teixeira.

Uma ideia sobre “Interesse, conhecer as manhas e as manhãs

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.