DEMOCRACIA, AINDA QUE TARDIA
Maria Helena Campos Pereira
Dizem que a melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo. O Brasil está assim, os brasileiros reinventam dias melhores para a nação. E, é interessante reviver os momentos em que a espécie humana luta pelos seus direitos.
Em 1983, as escolas mineiras se mobilizaram, foi o primeiro Congresso Mineiro de Educação em que houve a participação de todas as escolas públicas, uma verdadeira ação de base com diagnóstico das necessidades. Antes deste movimento, a disparidade na educação era enorme, o material didático era inadequado, poucos conseguiam uma merenda de qualidade E os diretores eram indicados pelo governo estatal, verdadeiro cabide de emprego e bode expiatório dos políticos, não havia inclusão porque as crianças especiais, ou iriam para uma sala rotulada de especial, ou continuavam em casa sem nenhum trabalho educativo, e os contratos de profissionais da educação eram de acordo com os interesses dos gestores, apadrinhamento era uma realidade, a repetência enorme, mas o interessante era reprovar para que os alunos pudessem permanecer na escola, aumentar o índice de matrícula e automaticamente, o nível financeiro da direção. Com esse congresso, muitos problemas se tornaram transparentes perante a sociedade, e daí, outros movimentos maiores foram surgindo, até se chegar ao grande evento que deu origem à democracia.
Hoje, o Estado se diz “Democrático”, mas o que é democracia de fato? De acordo com Morin (2000), o estado democrático de fato interfere na máquina estatal e provoca mudanças necessárias que é importante para a sociedade, “e as democracias do século XXI serão cada vez mais confrontadas ao gigantesco problema decorrente do desenvolvimento da enorme máquina em que ciência, técnica e burocracia estão intimamente associadas”.
Neste aspecto, pode-se entender que, o processo político em que se vive, e pelo qual o Brasil acordou, pode ser uma revolta, com a regressão da democracia, onde os cidadãos brasileiros se situam à margem das grandes decisões políticas dos astutos tecnocratas, com discursos que se diz democrata.
Neste contexto, diz a presidente, “vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos.”(ROUSSEFF, 2013) A nova energia política e o novo pacto, citado pela chefe de estado pode ser um novo acordo da minoria com fragmentações de políticos que jogam com seus interesses.
Na verdade, a presidenta ao expressar, as principais cidades, não foi muito feliz porque houve um menosprezo das cidades menores, será que não se pode dizer da existência aí de uma discriminação? E quem sabe as melhores propostas surgem dos menores centros urbanos? Dizem que, os melhores perfumes podem estar nos menores frascos, e qualidade é um processo no qual todas as pessoas, de todos os setores e níveis hierárquicos contribuem para a melhoria dos processos, então é compromisso de todos, sem discriminação, sem atrofiar competências, degradar o civismo e comprometer a democracia.
A metodologia para que isso aconteça, pode ser planejada estrategicamente, é só aplicar a técnica de solução de problemas, interligada ao planejamento estratégico e a pesquisa-ação, caso contrário, entende-se que a política fragmentada, tal como tem acontecido, pode perder a compreensão da vida. Mas, na verdade, prioritariamente, nem precisa de um plano estratégico a princípio, porque todos que estão na rua solicitam melhoria no transporte público, na saúde, educação e segurança. E em contrapartida, o povo reivindica a equiparação dos gastos da copa com suas reivindicações, isto é questão de eficácia.
Até que atualmente, a seleção brasileira tem demonstrado a sua eficácia, isto é importante porque até então, ela demonstrava eficiência, jogava com arte, mas não conseguia ser eficaz para ganhar a partida. Hoje, grande parcela da população poderia gritar: “que teu futuro espelhe esta grandeza!” Terra de encantos mil, mas também de desencantos, com a omissão do poder público, corrupção de políticos, desemprego, inflação com sistema ineficaz, superfaturamento de obras públicas, violência familiar e social, muitos impostos e ainda, órgãos públicos com funcionários marajás, que distribuem senhas até as 15(quinze) horas e depois os cidadãos brasileiros ficam ao léu da situação, e o povo é tratado como irracionais, não como seres humanos. Será que os gestores da máquina estatal não conhecem os princípios e fundamentos básicos de uma gestão? A competência, a motivação, a finalidade, o objeto e a forma, são importantíssimos em qualquer processo gestor. E gerir com legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, ter eficiência e ser eficaz, são princípios exigidos para a administração pública. Então, com estas concepções da administração geral, entende-se que, pode estar em falta os administradores que entendam e coloquem em prática uma exigência que deveria ser para todos, e principalmente, para a cúpula governamental, tanto no âmbito municipal, estatal, quanto federal. Não adianta um economista a tiracolo, o importante é uma gestão que saiba ouvir as bases de verdade, não somente, a cúpula com representantes que não sabem representar o povo que os elegeu, e nem apenas, os gestores das grandes metrópoles, as muralhas de concreto, a voz da democracia é o grito interligado à serenidade de todos na rua, que lutam pelo incremento democrático, ainda que tardia.