VIGILANTES DE MIAME

                                              por Cesar Barroso 
A classe política brasileira vem há anos abusando do povo brasileiro. Vivemos numa democracia, mas acabamos de acordar para a realidade de que descambamos para uma ditadura com pele de democracia. Ninguém se engane, democracia sem vigilância descamba para democracia ditatorial. A vigilância popular é imperativa para que os detentores do poder numa democracia não o usem contra o povo. Democracia é vigilância, é luta, é cobrança, é transparência. 
Nos últimos dias o povo brasileiro deu provas de que não está mais “deitado em berço esplêndido”. O povo brasileiro deu um recado claro aos que abusam do mandato que lhes foi dado de governar em nome do povo e para o povo. O povo brasileiro disse em alto e em bom tom que não se satisfaz com ir às urnas para eleger ditadores, uma coligação de partidos sem compromisso nenhum a não ser de atender aos próprios interesses, de tripudiar sobre sentenças claras e justas do judiciário, de acolher condenados em seu seio – absolver e acoitar condenados com culpa formada e sentença proferida. 
Quer-se criar uma imagem negativa do povo brasileiro de cordialidade e de fraqueza. Abusa-se do estereótipo do brasileiro bonzinho, que aceita sem reclamar os excessos que vão se acumulando em quantidade e intensidade. Os espertalhões divulgam que o Brasil conseguiu a sua independência sem dar um tiro. Nada mais inverídico. Recomendo a esses espertalhões que leiam bem a história do Brasil. Tem muito sangue heroico de brancos, negros e índios na argamassa de nossa sociedade. Sangue, suor e lágrimas dos que levaram nossas fronteiras além do Tratado de Tordesilhas, combateram contra o inimigo externo, morreram nos movimentos pela independência, em Ouro Preto, nas ruas do Rio de Janeiro e de tantas outras cidades. A própria Presidente Dilma Rousseff colocou o seu sangue à disposição da nação brasileira na luta pelo fim da ditadura militar. 
Essa gente que foi à rua exigir um basta aos desmandos governamentais carrega nas veias o sangue que exigiu o corte dos laços com Portugal quando nos quiseram fazer voltar à condição de colônia, por ocasião do retorno de Dom João VI à Lisboa em 1821. Dom Pedro I era um valente, e os brasileiros cerraram fileiras em torno de sua liderança. Recomendo a esses espertalhões que leiam Mello Moraes em “História do Brasil-Reino e do Brasil-Império”. Houve derramamento de sangue, sim. E se não houve mais foi porque as circunstâncias não exigiram. Não temos sangue de barata. Nem mesmo o futebol consegue mais nos servir de ópio. 
Os espertalhões conseguem através de empréstimos generosos e verbas de publicidade mais generosas ainda usar boa parte dos meios de comunicação contra a democracia. O canal de TV de maior audiência volta as costas às aspirações populares legítimas e mostra apenas badernas paralelas. Não admira que criminosos aproveitem-se das demonstrações justas para depredarem e roubarem. Eles estão nas ruas graças ao incentivo governamental de leis que não penalizam, da bolsa-presidiário e outros incentivos à criminalidade. Ora, a população não aguenta mais pagar a criminosos para que a ataque. 
Os políticos nessa horas desaparecem. Petistas, peemedebistas e tucanos – que se diferenciam tão somente pela cor das penas – saem do cenário. A Presidente Dilma Rousseff, por força do cargo, veio a público e fez promessas, num discurso, para muitos, irreal. Por falta de melhor, o discurso foi gravado e deve servir de base para cobranças sem timidez. 
Sra. Presidente Dilma Rousseff, a sra. tem conhecimento por experiência de movimentos de rua. Sabe de seu potencial. Não é mais um grupo de estudantes esquerdistas que sai às ruas. Milhões foram às ruas, em dezenas de cidades. Cumpra o seu dever de governar para o povo. Se não cumpre, abre uma caixa de Pandora de onde poderão sair generais e nos levar a uma regressão inaceitável. Coloque um pouco de lado os interesses dos grupelhos que há décadas se locupletam das reservas federais e cumpra o seu dever! 
O poder corrompe e a extinção da corrupção em qualquer governo é impossível. Transparência total não existe. Mas o povo brasileiro exige alguma transparência. O povo brasileiro quer prestação de contas das obras nos estádios, das licitações governamentais na área de energia, dos empréstimos do BNDES a empresários apaziguados, dos critérios para concessão de verbas à cultura e arte pelo MRE. O povo brasileiro quer alguma transparência, Sra. Presidente, porque nesse momento não existe nenhuma! 
A vaia que a Sra. recebeu na abertura da Copa das Confederações foi o pontapé inicial das manifestações de rua. Ali, na companhia significativa do presidente da FIFA, os brasileiros começaram a lhe demonstrar sua insatisfação. A Sra. tem um mandato popular, e a responsabilidade é sua.

É sua prerrogativa beijar a mão do ditador Fidel Castro, mas o Brasil não beija, não. E nem outorgamos à sra. os poderes ditatoriais que ele tem. Queremos detalhes do contrato para a recuperação do porto cubano de Mariel. O povo brasileiro quer transparência, e para haver democracia tem que haver transparência, educação, saúde, transporte e salários decentes. Isso é o mínimo que o brasileiro exige. 
Daqui de Miami nós também estamos vigilantes. 
All rights reserved@Cesar Barroso 
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