INTERFACES CURRÍCULARES,

                                  INTERFACES CURRICULARES
 Maria Helena Campos Pereira

Resumo
O texto tem como objetivo fazer uma reflexão a respeito das interfaces curriculares, as críticas ao contexto da gestão educativa e polícas relacionadas, bem como as possibilidades de um currículo não fragmentado.

Palavras chave: currículo, poder, política e ideologia.     

Introdução

 

                  Inovar significa mudar, alçar novos voos em direção às transformações que possam contribuir com a melhoria dos processos. Assim, inovação curricular requer uma nova postura profissional, com ações mais democráticas e cooperativas em prol de uma educação menos verticalizada e mais espiral, menos disjunta e mais integrada, para que se consiga caminhar com a visão de ações e relações interdisciplinares.
                 Dessa forma, o projeto pedagógico curricular de uma instituição deve expressar uma atitude educacional, que consiste em dar um sentido, um rumo às práticas educacionais, onde quer que sejam realizadas, e firmar as condições organizativas e metodológicas para a viabilização da atividade educativa. (LIBÂNEO, 1998).
                O projeto é curricular porque propõe, também, o currículo, o referencial concreto da proposta pedagógica. O currículo é o desdobramento do projeto pedagógico, ou seja, a projeção dos objetivos, das orientações e das diretrizes operacionais previstas nele. Mas, ao colocar em prática esse projeto, o currículo também o realimenta e o modifica. Supõe-se então, estreita articulação entre o projeto pedagógico e a proposta curricular, a fim de promover um entrecruzamento dos objetivos e das estratégias para o ensino, os quais devem ser formulados com base na identificação de necessidades e de exigências da sociedade e do aluno, mediante critérios filosóficos, políticos, culturais e pedagógicos, a partir das experiências educacionais e devem ser proporcionadas aos alunos por meio do currículo.

                 Deve-se salientar que o projeto curricular é um documento que reproduz as intenções e o modo operacional da equipe escolar, cuja viabilização necessita das formas de organização e de gestão. Não basta ter o projeto, é necessário que seja utilizado no dia a dia da escola.
      A organização do processo de ensino e aprendizagem refere-se ao suprimento dos suportes pedagógicos necessários à organização do trabalho escolar. Compreende o currículo, a organização pedagógica e didática, tais como, planos, metodologias, organização dos níveis escolares, horários, distribuição de alunos por classe, assistência pedagógica sistemática aos professores, avaliação, ações de formação continuada, conselhos de classe, entre outros.
   Neste contexto, a direção e coordenação correspondem a tarefas agrupadas sob o termo de gestão, as quais se referem a todas as atividades de coordenação e acompanhamento do projeto pedagógico curricular em desenvolvimento, e deve priorizar o trabalho em equipe, a formação de grupos de trabalho, do líder, um relacionamento humanizado, afetuoso e de preocupação contínua com o indivíduo.  Então, ao construir uma prática coletiva, não se nega os conflitos, todos os dias pode-se ter um desafio a enfrentar, são sempre questões novas, no entanto, há que se errar, aprender e estudar sempre em organizações educativas com visões inovadoras.
  Portanto, ao realizar uma metáfora com a situação inovadora, pode-se relembrar Brecht (2006), “se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentis com os peixes pequenos, (…) fariam construir resistentes gaiolas no mar para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. (…) cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adotariam todas as providências necessárias. Naturalmente, havia também escolas nas gaiolas. (…) A aula principal seria, com certeza, a formação moral dos peixinhos”.
Este fragmento metafórico pode levar a uma reflexão crítica do processo educativo atual e ao mesmo tempo da gestão de cidades e os planejadores que poderiam investit melhor nos sistemas educativos. Para tanto, insere-se as definições  das possibilidades e interfaces curriculares.
Currículo e poder. Não se trata de dar um tom romântico a uma capacidade de revide e de resistência, mas de repensar a relação entre o poder e a vitalidade social na tecla da transcendência. Rios (2013) enfatiza que as regras devem existir desde que sejam questionadas e alteradas quando se mostram inconsistentes. Ela faz uma critica  ao referir-se a uma concepção de poder e autoridade ligada ao cumprimento estrito das regras, que não deixam espaço para a criatividade, estilos diferentes de agir e novas alternativas para a convivência são fundamentais no processo educativo. Autoridade sim, poderio não.
Currículo e política. Ao considerarmos as dimensões técnicas e políticas do currículo pode-se pensar que está interligado ao motivo das ações e porque as realizamos, isso de acordo com Rios (2013), nos remete ao político e a moral.
Currículo e ideologia. A escola é o aparelho ideológico do Estado, disseminador e produtor da ideologia dominante através dos conteúdos[1]. A cultura que tem valor e prestígio é a das classes dominantes, na medida em que obtê-la significa possuir vantagens materiais e simbólicas. (Bourdieu & Passeron[2]). Para estes autores, a escola seria a principal estrutura objetiva que molda mentalidades e comportamentos. Neste contexto, observa-se a importância dos espaços escolares na construção de um currículo de evidência crítica, política e sem partidarismos, para que se possa contribuir com a formação política e emancipatória do sujeito na sociedade. Assim, poder-se-á atuar e defender seus direitos e inová-los no âmbito profissional e social. Sujeito capaz de enfrentar o comodismo e agir com voz e pulso firme pelo que acredita e por si. Suas crenças, ainda que utópicas, podem mudar estratégias, discernir entre a hora do diálogo e do questionamento.
Ainda com os fundamentos de Bourdieu e Passeron, chegaram a fazer um apelo para que os professores, ao entenderem os mecanismos de reprodução do sistema capitalista, adotem uma ação pedagógica que fuja da política, quebrando com o reprodutivismo.
Portanto, ao analisar a gestão pelo ângulo das interfaces curriculares é importante compreender que ao invés da violência simbólica (Bourdieu) e da fragmentação é fundamental o currículo multidisciplinar com reflexões filosóficas que contribuam para uma aprendizagem fundada na ‘competência cultural e linguística herdada’, sobretudo, da família, que necessita contribuir e facilitar o bom desempenho escolar.
Se você fosse professor (a) na escola de tubarões, qual seria a sua maior inovação?


[1] Louis Althusser foi um filósofo francês de origem argelina.
[2] Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, concentraram sua atenção sobre a mesma questão trabalhada por Althusser: o entendimento da reprodução da estrutura social e do sistema de poder no âmbito capitalista. Pierre Bourdieu (1930-2002), filósofo francês de origem camponesa, foi professor universitário no “Collége de France”, tradicional e conceituada universidade localizada em Paris. Atuou nas mais renomadas universidades do mundo, como Harvard, Chicago e Frankfurt.
Referencias
CAMPOS, MH. Las relaciones interdisciplinarias en los proyectos educativos. Havana, Cuba: ISPEJV, 2002.
LIBANEO, Carlos. Educação Escolar: Políticas, Estruturas e Organização São Paulo: Cortez, 2003. Cap 1 e 2, 1998
RIOS, Terezinha Azeredo. O diferente do currículo. São Paulo: novaescola.org. br/gestão, fev/março,2013.
BOURDIEU & PASSERON. Os estudos de Bourdieu, Passeron, Bowles e Gintis. (apud) Para entender a história… ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mai., Série 16/05, 2011, p.01-06.

 

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