Arquivo mensais:fevereiro 2014

REFLEXÕES FILOSÓFICAS PARA ADOLESCENTES

UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTONIO CARLOS – FUPAC/UNIPAC
Curso de Pedagogia – Disciplina: Filosofia p/crianças e adolescentes/2014/1
Prof. Maria Helena Campos Pereira
Objetivo: Refletir sobre a linguística, a importância da subjetividade x transdisciplinaridade, bem como, a estética na construção textual e sua inferência na postura e vivência Ética.

ALMAS PERFUMADAS

        
    Carlos Drummond de Andrade

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda. De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente
no balanço de uma rede que dança gostoso
numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente
comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe
que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente
chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril,
mas parece manhã de Natal
do tempo em que a gente acordava e encontrava
o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas
que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos
acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha
que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando
um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos, os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia
do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe
que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração
que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra
que no instante em que rimos Deus está conosco,
juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você que nem percebe
como tem a alma Perfumada!
E que esse perfume é dom de Deus.
                 Interpretação filosófica
1   
      De acordo Carlos Drumond de Andrade, todas as pessoas são perfumadas?
2    Como as pessoas podem se transformar em almas perfumadas?
3       Por que existem pessoas que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda. De flor quando ri?
4       O que sentimos ao balançar em uma rede? E o autor o que sente?
5       Quais são as suas reações ao comer pipoca na praça? E a do autor?
6       Você já lambuzou o queixo de sorvete? O que o texto exprime a esse respeito?
7       Qual é a cor de se melar os dedos com algodão doce na perspectiva de Drummond?
8       O que o autor pode estar expressando com a frase “a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver”?
9       Você já experimentou o banho de mar quando a água é quente e o céu é azul?
  Considera que os anjos existem e que alguns são invisíveis? Por quê?
1    Qual a sensação de se chegar em casa e trocar o salto pelo chinelo?
1     Será que  realmente existem pessoas com cheiro das estrelas, por quê?
  Como podemos saborear o cheiro das estrelas do céu e na Terra?

Concepções teóricas

O texto remete ao contexto da linguística no que se refere à personificação e metáfora,  assim como, a afetividade que pode ser fundada nas concepções de Henri Wallon e também nas posturas de Fernando Pessoa que em sua literatura fortalece o afeto  com o seu jeito carinhoso de escrever. Pode-se perceber em ‘almas perfumadas’ as marcas singulares de um indivíduo que valoriza as pequenas e ou grandes ações do sujeito que realmente pode ser considerado racional.
E nesta marca singular, a formação do indivíduo relaciona-se  à construção de crenças e valores compartilhados na dimensão cultural que vão constituir a experiência histórica e coletiva.1
Neste contexto, a subjetividade pode ser considareda como o mundo interno de todo e qualquer ser humano. Este mundo interno é composto por emoções, sentimentos e pensamentos. Assim, diferenças nos modos de subjetivação e constituição das subjetividades relacionam-se com a dimensão ética na medida em que esta sistematiza e justifica racionalmente um determinado código ou padrão de conduta, um determinado quadro de normas e valores e uma determinada postura a ser ensinada e exigida pelos sujeitos. As éticas, portanto, são como dispositivos ‘ensinantes’ de subjetivação: elas efetivamente sujeitam os indivíduos, ensinando, orientando, modelando e exigindo a conversão dos homens em sujeitos morais historicamente determinados.2
Nos processos de constituição da subjetividade deve-se levar em conta quatro dimensões:
1. A intersubjetividade transubjetiva, que emerge das propostas filosóficas e valorizam as modalidades pré subjetivas de existência. É a experiência de um solo de acolhimento e sustentação, em que a alteridade surge como constituinte das experiências subjetivas, não por oposição e confronto, mas por seu caráter de inclusão primordial.
2. Intersubjetividade traumática, neste caso, o outro não só precede o eu, como sempre o excede. O fato do outro sempre exceder o eu é por sua vez inevitavelmente traumático.
3. Intersubjetividade interpessoal, parte da experiência do reconhecimento entre indivíduos. Trata-se de uma interação concreta entre organismos já diferenciados, funcionando em um plano individual ou interindividual.
4. A intersubjetividade intrapsíquica, encontra fundamentalmente nas contribuições psicanalíticas, inclui o estudo das experiências “intersubjetivas” estabelecidas no “interior” das subjetividades.3
                Então, neste conntexto de ‘Almas Perfumadas’ pode-se entender que está fundado mais especificamente à intersubjetividade interpessoal, devido ao reconhecimento do autor com ações entre os indivíduos, assim como, a comparação e personificação dos processos individuais ou interindividuais. Verifica-se ainda a  intersubjetividade transubjetiva, com ênfase em propostas filosóficas e valorização das modalidades pré subjetivas da existência humana com a experiência do acolhimento e comparação com a sustentação e alteridade ao surgir  com vivências subjetivas, não por oposição e confronto, mas por seu caráter de inclusão, comparação temporal e sentimental, bem como, dos toques de energia e da espiritualidade.
            Portanto, vocês são almas perfumadas na minha vida, e a energia positiva irradiada são toques que podem impulsionar o meu viver.

Referências

2. FIGUEIREDO, L.C. Ética, saúde e as praticas alternativas. http://www.fen.ufg.br/revista, 03/2009
3. NAFFAH, Alfredo N. Neto. Dimensões da intersubjetividade. (organizadores) Nelson Coelho Junior, Pedro Salem, Pela Klautau;com textos de Alfredo Naffah Neto…[et al.].São Paulo: Escuta/Fapesp, 2012.