Arquivo mensais:agosto 2012

O Menino Azul, Filosofia e poética para a infância

Filosofia para crianças e adolescentes
Maria Helena Campos Pereira[i]
Arte poética é a expressão que remete, em primeiro lugar, para Aristóteles (384-322 a. C.) e para o seu conhecimento o tratado sobre a poesia. Ao que se pensa e julga saber, este tratado, composto na parte final da vida do autor, revela o caráter acromático de importância para parte do corpo textual aristotélico.
Uma das contribuições deste filósofo para o processo educacional foi a sua arte poética. E, assim surgiram outras poéticas com autores contemporâneos.
Assim como Aristóteles que teve como objetivo a organização das coisas no mundo, o poema abaixo de Cecília Meireles, também tem essa conotação, e tem contribuído significativamente nas reflexões filosóficas com crianças e adolescentes, ao enfatizar sobre a importância das posturas e valores éticos, e das comparações exixtentes no poema, no qual a autora faz de um burrinho com o ser humano, um burrinho que valoriza a natureza  e tenha posturas mais equilibradas e humanísticas.
                          
                           O Menino Azul
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
         mas que saiba conversar.
         O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
– de tudo que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar
histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.
(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Rua das Casas
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
     Reflexões
     A Filosofia para crianças e adolescentes é importante porque propicia a busca de respostas para suas perguntas, até mesmo no caso de crianças com 2 a 3 anos que já começam as fases do “o que?” “para quê”? “por quê?”, dessa forma, ela terá um esforço intelectual  e pensamento condizente para obtenção de uma análise metódica ou uma resposta adequada aos seus questionamentos.
     E este poema de Cecília Meireles nos leva a compreender a Filosofia como uma arte, em que não se quer dizer apenas uma coisa no texto expresso da literatura infantil, mas permite usar a imaginação e entender que a arte poética e a estética se complementam no caminho da subjetividade literária.
    Portanto, filosofar na infância é contribuir para que as crianças possam aprender a transcedência imaginativa de sua formação oral com destino à escrita.
                                                   ———- X  ———–

     Então, responda o que se pede e faça um texto coerente com a filosofia subjetivista contida no mesmo e com pensamentos transcendentais.

Sugestões para discussões em grupo:
1.  Por que o nome o Menino Azul?
2.  Que tipo de burrinho quer o Menino Azul?
3.  Será que podemos comprar esse burrinho?
4.  Se alguém encontrasse o burrinho tinha, como levá-lo para o Menino Azul?
5.  Na sociedade de hoje, que tipo de burrinho procuramos?
6. A admiração é um dos quesitos básicos para sermos bons filósofos, então, qual a parte do poema que mais implica no processo de admirar?


[i] Maria Helena Campos Pereira é professora de Filosofia para crianças e adolescentes. Mestre em Ciências da Educação pelo Instituto Superior Pedagógico Enrique Jose Varona / Havana / Cuba e Doutoranda em Educação pala Uma – Universidade da Madeira – UMa/Funchal / Portugal.

ARTE, FILOSOFIA E POÉTICA DA INFÂNCIA

ARTE, FILOSOFIA E POÉTICA DA INFÂNCIA
A sandália que não era de cristal
Maria Helena Campos Pereira[1]  &  Silvana Soares de Almeida Silva[2]
Resumo
Este texto tem como objetivo apresentar a construção do conhecimento filosófico, a partir de ideias metodológicas que resultam em um aprendizado de interesse com os resquícios infantis que influem na idade adulta. Neste contexto, o educando se insere no mundo infantil para retratar os momentos que marcaram a sua vida infantil e a professora coordena a investigação empírica com todos os interessados para filosofar a arte poética da infância.
Palavras chave:
Arte, filosofia, poética, histórias de infância.
Introdução
          A todo o momento, a vida nos ensina coisas inexplicáveis, somos obrigados a vivenciar cenas indesejáveis em diversos setores da sociedade. São momentos não planejados, mas, estes atordoados e angustiantes assuntos se transformam muitas vezes em verdadeiras obras de arte, que não deixa de ser assunto antro-poético, através de pessoas sensíveis e com a capacidade de profunda admiração, até mesmo com os mínimos detalhes. Dessa forma, é dever da escola ensinar a pensar, refletir e admirar, como diz Jostein Gaarder em “O Mundo de Sofia” para sermos bons filósofos é necessário aprender admirar. E a admiração é uma arte porque filosofar também se faz com a arte poética.
Poética e estética são grandes momentos da arte no ponto de vista filosófico, inaugurados por Platão e Aristóteles. A arte poética, obra de Aristóteles, assim foi denominada de poética, a arte da fala e da escrita, do canto e da dança, a poesia e o teatro e designada posteriormente por estética após o século XVIII. (CHAUÍ, p321)
        
            Filosofar é pensar, refletir, criar, a criação é ativa e pode solucionar um conflito interior, a qual resulta num clímax de natureza emocional. A criação artística é uma forma de expressar o sentimento, este constrói a arte filosófica e arte de prosear pode destruir o sentimento. Então, filosofar é prosear sobre diversos assuntos, inclusive as emoções.
            Nas escolas o cuidado com as emoções, com a reflexão sobre as emoções, falar sobre elas e as consequências de determinadas condutas para outras pessoas, isso tem que ser bastante promovido, parece ser uma medida urgente para minimizar a violência. E os professores não sabem tudo, até a criança pode saber colocar perguntas boas e geniais, pode inclusive descobrir novos fatos.
            A Filosofia é um modo de pensar e exprimir pensamentos. (CHAUÍ, 1995 p.25). Portanto, a prosa e a linguagem fazem parte deste contexto em que a autora de, “A Sandália que não era de cristal, exprime seus pensamentos, sentimentos e valores, com funções conotativas, indicativas ou denotativas. Assim como, a ilustração e o texto que representa aquele momento empírico e filosófico.
A Sandália que não era de cristal
                                          Silvana Soares de Almeida Silva
            Vinda de uma família muito humilde, onde o pai era pedreiro e a mãe lavadeira, não tive regalias e nem brinquedos. Minhas bonecas eram de bucha novinha que eu colhia no mato, aquela que se usa para tomar banho ou às vezes com sabugo de milho e caroço de manga dava para fazer o olho e boca com caneta preta, latas viravam panelas onde a terra e as folhas faziam parte das brincadeiras.
Gostava muito de brincar, mas quando saía tinha muita vergonha das roupas que minha mãe comprava nos bazares da igreja. Quando fiquei maior, ganhei uma sandália de amarrar na perna, era da moda, mas não era o meu número, estava conservada quase não tinha sido usada, fiquei muito feliz, achei linda e pensei, agora poderia ir à igreja com minhas colegas durante a noite.
Ingênua ideia! Tive que programar um passeio. Fui para casa, me arrumei toda, achei que tinha ficado linda, e o melhor na moda. Quando cheguei perto de minhas colegas, a decepção veio como um relâmpago. Muitas gargalhadas surgiram e logo vieram as perguntas:
_ Nossa! Você pegou a sandália da sua mãe?
_ Ficou horrível!
_ Você não tem outro sapato? Olha só, o meu é novo e ganhei de  aniversário.
As perguntas me mostraram aquilo que a simplicidade às vezes não enxerga. Fiquei morrendo de vergonha, achava a sandália linda, mas, o tamanho realmente não era o meu, ficava um bico enorme na frente, e se eu empurrasse o pé ficava grande atrás.
           Voltei para casa chorando e me enfiei debaixo da cama, não queria que minha mãe soubesse, pois trabalhava muito para nos dar o pouco que podia. Continuei usando a sandália evitando que minha mãe soubesse da história e todas as vezes que eu as usava me lembrava das palavras que havia ouvido, e até hoje me lembro como se fosse ontem.
Filosofia para adolescentes, metodologia de concepção construtivista.
A Sandália que não era de cristal é fruto de uma metodologia utilizada pela professora Maria Helena Campos Pereira nas aulas de Filosofia para crianças e adolescentes, na qual ela solicitou que as alunas fizessem um desenho da História que marcou a sua infância e após o desenho ela as motivou a filosofar a respeito do desenho. Foi assim que a aluna Silvana conseguiu expor seu conhecimento, que na verdade estava embutido na em sua teia psicopedagógica. Assim, pode-se dizer que esta arte foi construída a partir de seu sentimento da infância, e este pode ser destruído por se tratar de uma nova visão do conhecimento histórico- cultural e filosófico.
No início do trabalho houve resistência em desenhar e escrever esta filosofia, no entanto, logo após ter conseguido arquitetar “A sandália que não era de cristal”, o interesse  da aluna foi surgindo e o texto foi melhorando aos poucos com a ajuda da professora que orientou quanto aos aspectos linguísticos e estéticos.
Portanto, entende-se que filosofar é prosear! É refletir sobre a vida, conhecer a si mesmo, buscar ações conscientes para convívio em sociedade. É a distinção do verdadeiro e do falso, é o ser humano questionador, porém autêntico e a construção de novos conhecimentos que poderão servir de reflexão para a harmonia do mundo, pois as lembranças de infância, mesmo que alegres ou tristes, quando bem orientadas podem ser aceitas e servirão de suporte para o crescimento pessoal e quem sabe da humanidade.
            No sentido psicopedagógico, pode-se dizer que o sentimento constrói a arte e a arte destrói o sentimento porque a vida é uma arte constante, com máscaras que se inserem nas cênicas e nas plásticas, com as diversas notas, inclusive as musicais que dão sentido à vida. Mas, como se pode perceber em algumas obras de arte tal qual “A última música”.
A vida é um piano. Teclas brancas representam a felicidade e as pretas, a angústia. Com o passar do tempo você percebe que as teclas pretas também fazem música. (A última Música)
            A música da vida está presente em todos os momentos, mesmo com teclas entrelaçadas e multicores, somos os instrumentos que fazem parte da musicalidade em que vivemos. Pianos, teclados, pandeiros, chocalhos, violão…, todos compõem a harmonia instrumental que dão cor à vida. Assim, deveria ser o mundo, com pessoas que pensam e reflitam as suas ações, antes de cometer qualquer equívoco impensado. Somos na maioria fruto do amor e da união, quisera ser então, a semente da humildade, da solidariedade e do amor ao próximo, mesmo que a sandália não seja de cristal.
Discussão e ideias conclusivas
A estética e poética da vida pode ser percebida desde Aristóteles, um homem extremamente meticuloso que queria organizar os conceitos dos homens e por ordem no mundo. Assim, pode-se perceber que as colegas de Silvana não possuíam orientações adequadas aos conceitos éticos porque zombavam da menina que usava a sandália que não era de cristal, mas era o único calçado que ela possuía para aquele momento.
A inocência implícita na infância torna a situação vivenciada pela autora uma história emocionante, pois a mesma soube lidar com a situação maturidade e sabedoria. Ela se preocupou com o sentimento, a decepção, que causaria na mãe caso se desfizesse das sandálias. E apesar de ter sido de certa forma humilhada pelas colegas, seu desejo de obter aquele objeto não a fez desistir. Ela não se influenciou pelas opiniões alheias.
As recordações de infância desta aluna tem sido no bom sentido, como se fosse um ganho de causa, não como um problema em sua vida. Neste contexto e no sentido psicopedagógico, pode-se dizer que o sentimento constrói a arte e a arte destrói o sentimento, pois ela conseguiu lutar com seus pensamentos, suas angústias e os transformou em fragmentos textuais que poderão servir de reflexões psíquicas e pedagógicas à muitos pais e educadores que primam pela qualidade de vida no planeta terra.
Referência bibliográfica
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995.
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: Romance da história da filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1995 


[1] CAMPOS  P. Maria Helena. Arte, filosofia e poética da infância. Governador Valadares: UNIPAC, 2011(Professora de Filosofia para crianças e adolescentes da Universidade Presidente Antonio Carlos).
[2] SILVA, Silvana Soares de Almeida. A sandália que não era de cristal. Governador Valadares: UNIPAC, 2011. (Acadêmica do curso de Pedagogia da Presidente Antonio Carlos).